Dolly: Ela chegou quase na mesma época em que seus irmãzinhos de ninhada, Dóris e Toni chegaram para o tio “Jão” e para a vó Carminha. Estávamos na casa dela quando os dois chegaram trazidos pelo tio Juju.
Quando a Camila viu os cachorrinhos ficou radiante, tio Juju comentou que, da ninhada, tinha sobrado uma fêmea. Pronto! Foi o que bastou para minha filha me alugar.
— Deixa pai! Vamos ficar com ela! Pega vai. E por aí a fora. Ela sabe ser pintadinha quando quer.
Claro que acabei aceitando, mas aceitei, em parte, por achar que um animalzinho em casa, com quem deveria ser gasto parte do nosso tempo seria interessante para desviar um pouco a atenção da minha esposa do fato de estar longe da filha.
É obvio que a cachorrinha não supriria a falta da filha, mas iria tornar nossa casa menos vazia.
Por outro lado, concordei em pegar a cachorrinha sob duas condições:
Uma, de que a cachorrinha não seria criada no quintal, seria criada dentro de casa. Outros cães que já tivemos foram todos criados no quintal e não gostei muito da experiência.
Outra, a cachorrinha não iria cruzar, não iria ter filhotinhos. Isto porque no passado, por inexperiência nossa, éramos muito jovens, eu e minha esposa, perdemos duas cachorras no parto.
Uma delas tinha pelos logos e abundantes, que acabou por esconder o fato dela estar prenhe, fomos descobrir quando os filhotinhos estavam nascendo. Não conseguiu parir os filhotinhos e morreu.
A outra ficou prenhe na única vez que escapou para a rua e esta também não sabíamos que estava prenhe, desconfiamos e ficamos de olho, mas também a perdemos, apesar de levá-la, o mais rápido possível, ao veterinário tão logo ela entrou em trabalho de parto. Ela tinha cruzado com um cachorro enorme, que dava uns quatro dela, os filhotinhos eram muito grandes e mesmo o veterinário fazendo cesárea não conseguiu salvá-la, nem os filhotes.
Não queria que acontecesse de novo, tinha medo.
Condições aceitas... Ela chegou!
Parecia uma ovelhinha, pequenininha, peludinha, uma perfeita ovelhinha. Imediatamente o nome da estrela do momento veio às nossas mentes. O nascimento da ovelha Dolly era muito recente, daí seu nome.
Sei que era uma sexta feira, onze e meia da noite e tinha acabado de sair do restaurante onde fomos jantar, eu e meus tios João, Toninho e Jorge.
Fomos jantar, um suculento churrasco, e tomar cerveja, principalmente eu que não tinha bebido nada durante a viagem, estava dirigindo.
Tínhamos ido de manhã para a casa de praia do tio Jorge, para pescar embarcado no dia seguinte. Por falar nessa pescaria... Foi um barato, ficou marcada, toda vez que nos reuníamos na casa da vó essa pescaria era lembrada. O tio Toninho não podia nem ouvir falar dela, qualquer hora conto o porquê.
Então... Como ainda não tinha bebido nada, tirei o atraso no jantar, saí tortinho do restaurante. E foi quando me lembrei que ainda não tinha ligado pra casa avisando que tínhamos chegado bem.
Quem atende ao telefone quando eu ligo?
Camila!
Tão logo eu falei que tínhamos chegado bem, que estava um calor infernal, que já tínhamos jantado e estávamos tomando cerveja ela soltou do outro lado:
— Pai vamos pegar uma cachorrinha?
— Que cachorrinha? O que é isso agora?
— Uma collie pai, igual a Lassie, a tia Sandra cria e como ela não gosta de vender os filhotinhos dos cachorros dela, ela vai dar pra quem gosta de cachorros, é uma belezinha pai, já esta desmamada, vacinada, a gente já pode levar, vamos pegar?
— Nossa, mas essa cachorra fica grande!
— Então, ela vai vigiar o quintal pra gente!
— E o que sua mãe disse?
— Ela também adorou a cachorrinha.
Lascou! Pensei comigo.
Concordei, pegamos a tal cachorrinha e levamos pra Campinas, onde já estávamos morando. Foram duzentos e cinqüenta quilômetros rindo e ao mesmo tempo sentindo dó da cachorrinha. Ela de fato era linda, bicolor, marrom e branca, a patinha esquerda, da frente, todinha branca, uma belezinha, mas foi toda a viagem dentro de uma caixa de papelão no colo da minha esposa, toda encolhidinha, mal abria os olhinhos de medo.
Ficou traumatizada por andar de carro, da hora que chegamos e a soltamos no quintal até umas três semanas depois, ela não entrava no carro de jeito nenhum, a gente abria a porta do carro, a Dolly entrava correndo sabendo que ia passear e ela corria para o lado oposto.
A danadinha deu o que fazer para perder esse medo de andar de carro.
Desde novinha a gente achou que ela era meio sem noção, a gente ria muito com ela, acabamos por chamá-la de Debby. Sim! Pensando nos dois malucos daquele filme: Debi & Lóide.