segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Dolly
: Ela chegou quase na mesma época em que seus irmãzinhos de ninhada, Dóris e Toni chegaram para o tio “Jão” e para a vó Carminha. Estávamos na casa dela quando os dois chegaram trazidos pelo tio Juju.

Quando a Camila viu os cachorrinhos ficou radiante, tio Juju comentou que, da ninhada, tinha sobrado uma fêmea. Pronto! Foi o que bastou para minha filha me alugar.

— Deixa pai! Vamos ficar com ela! Pega vai. E por aí a fora. Ela sabe ser pintadinha quando quer.

Claro que acabei aceitando, mas aceitei, em parte, por achar que um animalzinho em casa, com quem deveria ser gasto parte do nosso tempo seria interessante para desviar um pouco a atenção da minha esposa do fato de estar longe da filha.

É obvio que a cachorrinha não supriria a falta da filha, mas iria tornar nossa casa menos vazia.

Por outro lado, concordei em pegar a cachorrinha sob duas condições:

Uma, de que a cachorrinha não seria criada no quintal, seria criada dentro de casa. Outros cães que já tivemos foram todos criados no quintal e não gostei muito da experiência.

Outra, a cachorrinha não iria cruzar, não iria ter filhotinhos. Isto porque no passado, por inexperiência nossa, éramos muito jovens, eu e minha esposa, perdemos duas cachorras no parto.

Uma delas tinha pelos logos e abundantes, que acabou por esconder o fato dela estar prenhe, fomos descobrir quando os filhotinhos estavam nascendo. Não conseguiu parir os filhotinhos e morreu.

A outra ficou prenhe na única vez que escapou para a rua e esta também não sabíamos que estava prenhe, desconfiamos e ficamos de olho, mas também a perdemos, apesar de levá-la, o mais rápido possível, ao veterinário tão logo ela entrou em trabalho de parto. Ela tinha cruzado com um cachorro enorme, que dava uns quatro dela, os filhotinhos eram muito grandes e mesmo o veterinário fazendo cesárea não conseguiu salvá-la, nem os filhotes.

Não queria que acontecesse de novo, tinha medo.

Condições aceitas... Ela chegou!

Parecia uma ovelhinha, pequenininha, peludinha, uma perfeita ovelhinha. Imediatamente o nome da estrela do momento veio às nossas mentes. O nascimento da ovelha Dolly era muito recente, daí seu nome.

Debby: Essa veio por descuido. Não vou dizer que foi culpa da “mardita” da cachaça porque seria pecado. Desde o primeiro dia que essa cachorra entrou em nossas vidas só nos deu alegria, foi realmente amiga, companheira e protetora, mas mesmo assim veio por descuido.

Sei que era uma sexta feira, onze e meia da noite e tinha acabado de sair do restaurante onde fomos jantar, eu e meus tios João, Toninho e Jorge.

Fomos jantar, um suculento churrasco, e tomar cerveja, principalmente eu que não tinha bebido nada durante a viagem, estava dirigindo.

Tínhamos ido de manhã para a casa de praia do tio Jorge, para pescar embarcado no dia seguinte. Por falar nessa pescaria... Foi um barato, ficou marcada, toda vez que nos reuníamos na casa da vó essa pescaria era lembrada. O tio Toninho não podia nem ouvir falar dela, qualquer hora conto o porquê.

Então... Como ainda não tinha bebido nada, tirei o atraso no jantar, saí tortinho do restaurante. E foi quando me lembrei que ainda não tinha ligado pra casa avisando que tínhamos chegado bem.

Quem atende ao telefone quando eu ligo?

Camila!

Tão logo eu falei que tínhamos chegado bem, que estava um calor infernal, que já tínhamos jantado e estávamos tomando cerveja ela soltou do outro lado:

— Pai vamos pegar uma cachorrinha?

— Que cachorrinha? O que é isso agora?

— Uma collie pai, igual a Lassie, a tia Sandra cria e como ela não gosta de vender os filhotinhos dos cachorros dela, ela vai dar pra quem gosta de cachorros, é uma belezinha pai, já esta desmamada, vacinada, a gente já pode levar, vamos pegar?

— Nossa, mas essa cachorra fica grande!

— Então, ela vai vigiar o quintal pra gente!

— E o que sua mãe disse?

— Ela também adorou a cachorrinha.

Lascou! Pensei comigo.

Concordei, pegamos a tal cachorrinha e levamos pra Campinas, onde já estávamos morando. Foram duzentos e cinqüenta quilômetros rindo e ao mesmo tempo sentindo dó da cachorrinha. Ela de fato era linda, bicolor, marrom e branca, a patinha esquerda, da frente, todinha branca, uma belezinha, mas foi toda a viagem dentro de uma caixa de papelão no colo da minha esposa, toda encolhidinha, mal abria os olhinhos de medo.

Ficou traumatizada por andar de carro, da hora que chegamos e a soltamos no quintal até umas três semanas depois, ela não entrava no carro de jeito nenhum, a gente abria a porta do carro, a Dolly entrava correndo sabendo que ia passear e ela corria para o lado oposto.

A danadinha deu o que fazer para perder esse medo de andar de carro.

Desde novinha a gente achou que ela era meio sem noção, a gente ria muito com ela, acabamos por chamá-la de Debby. Sim! Pensando nos dois malucos daquele filme: Debi & Lóide.




segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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A posição na foto da capa sugere e indica o nome deste livro: Debby & Dolly, mas por uma questão de hierarquia vamos começar pela mais velha, pela que chegou primeiro, pela branquinha.

Dolly: Uma poodle, filha da Bombom, uma cachorrinha poodle, pretinha, gordinha, de pernas curtas com um poodle bicolor, branco e champagne, de quem a Dolly herdou a cor, tipo standard, de pernas longas, detalhe também herdado por ela.

Da ninhada que ela nasceu, com respeito ao porte físico, só ela puxou ao pai. Um tanto alta e esbelta, com pose de madame, sempre com a cabeça erguida, altiva, bem diferente dos irmãozinhos que eram baixinhos, com perninhas curtas, atarracados e brincalhões.

Debby: Uma collie linda, de duas cores, branca e marrom, de porte médio, de pelo curto, de corpo esbelto tal qual sua irmã (esta, porém era preta e branca) que em nada puxaram os pais, um casal de collie, branco e marrom, de pelos longos e abundantes.

Dolly: Ela entrou em nossas vidas num momento que para nós era um misto de alegria e tristeza. Alegria porque nossa filha estava de mudança para Campinas onde ia trilhar o mesmo caminho do irmão, ia estudar, senão na melhor, numa das melhores universidades do país.

Isso nos enchia de orgulho principalmente porque somos, eu e minha esposa, de famílias humildes, e termos dois filhos numa universidade de ponta é simplesmente algo para se orgulhar.

Sempre tive orgulho das conquistas do meu filho e começava a sentir o mesmo pela filha ainda mais depois do comentário do irmão sobre ela. Na época ele me disse:

— Tem-se que tirar o chapéu pra Camila. Não é fácil para um aluno de escola publica que não cursa um colégio técnico, entrar na UNICAMP. São poucos os que conseguem isso.

Ele cursou escola publica, mas teve o privilégio de cursar um colégio técnico, ela não, cursou o segundo grau normal e com mérito, passou no vestibular e entrou na UNICAMP.

Foi uma época de tristeza porque, apesar dessa alegria imensa, ela foi morar longe de casa, o filho já estava longe fazia quatro anos, e naquele instante era ela que iria pra longe.

Digo longe porque apesar da distância, entre a porta da casa onde a deixamos em Campinas até a porta da nossa casa na cidade em que morávamos, ser de apenas duzentos e quarenta e quatro quilômetros, esses quilômetros percorridos na volta, no dia em que a deixamos em Campinas foram os duzentos e quarenta e quatro quilômetros mais longos da minha vida.

Minha esposa começou a chorar, sentindo sua falta, desde o momento em que nos despedimos dela na porta da casa E1 na Moradia Estudantil, até a porta da nossa casa.

Não suporto ver uma mulher chorando, mesmo sendo lagrimas de alegria, me dá um aperto no peito, principalmente se essa mulher é a minha, ou uma das minhas (que fique bem claro que a palavra minhas refere-se a minha filha, minha nora e minhas netas).

Pois é, chorou a viagem inteira!

Eu dizia: — Querida! Ela vai ficar bem.

— Eu sei... E chorava.

Eu dizia: — Querida! Ela entrou numa das melhores universidades do país.

— Eu sei... E toma-lhe choro.

Eu dizia: — Querida! Ela ficou com pessoas de bem, com a Gorete, que é irmã do Luiz Carlos, amigo do irmão dela.

— Eu sei... E toma-lhe mais choro.

Eu dizia: — Querida! Ela ficou numa casa quase ao lado da casa do irmão dela.

— Eu sei... E toma-lhe choro e soluço.

Eu dizia: — Querida! Ela foi construir o futuro dela, igualzinho ao irmão.

— Eu sei... E abria o berreiro!

Seria cômico, não fosse minha mulher chorando...

Debby: Quando ela chegou a tristeza já tinha ido embora das nossas vidas, ou melhor, eu, minha esposa e a Dolly havíamos mudado para Campinas, estávamos morando perto dos filhos.

A filha estava cursando o quarto ano de biologia e morando conosco, o filho havia terminado o mestrado em matemática e estava começando o doutorado nessa mesma área, por sinal para ele, foi um ano de luta, muita luta, mais que a de costume.

Um ano em que ele travou muitas batalhas políticas no âmbito estudantil, batalhas que acabaram por tirá-lo da luta nesse ano.

Ele foi tirado da luta, mas não perdeu a guerra, contrariando a muitos, deu a volta por cima e voltou ao lugar de onde não o deveriam ter tirado e cinco anos depois teve uma vitória consagradora, quando defendeu sua tese de doutorado.

Não falo como pai, falo como expectador. Depois da defesa, brilhante por sinal, questionado sobre um que participou atentamente da apresentação desde o inicio e que minutos antes da defesa ser finalizada saiu de cabeça baixa, informou tratar-se da pessoa que havia pedido seu jubilamento cinco anos atrás.

Isso foi apenas um fato isolado, o principal foram as palavras de uma das participantes da banca examinadora, ex adversária política, que citou esse fato, mas que se sentia orgulhosa por tê-lo, no passado, como adversário, pois ele sempre foi correto nos seus atos e disse mais: lamentou que ele estivesse longe da UNICAMP, longe de Campinas e afastado da política, inclusive afastado da política partidária, que ele sempre gostou, pois o lugar dele, segundo palavras dela, ditas em alto e bom som, devia ser Brasília, pois este país precisava de políticos com a qualidade moral que ele tinha.

Bom, como diz a musica: sem mais palavras...





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